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Defensivos Agrícolas: Entre o possível e o desejável

Atualizado: 17 de fev. de 2022



ARTIGO ANTONIO LÍCIO
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*Antonio Licio


Dando sequência à publicação dos artigos a serem publicados no livro “AS SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS QUE VÊM DOS TRÓPICOS” apresentamos o texto do economista Antônio Lício (PhD), Conselheiro do Fórum do Futuro, sobre um dos temas mais controversos da Bioeconomia: a aplicação de defensivos agrícolas.

Se fosse possível produzir comida sem o uso de agrotóxicos, hoje, em volume suficiente para garantir a segurança alimentar do Planeta, parece óbvio que os agricultores já teriam eliminado esse custo há bastante tempo.

Infelizmente isto ainda não é possível, apesar dos grandes avanços do controle biológico de pragas.

É preciso continuar investindo em Ciência, outra obviedade quase sempre desconectada desse debate.

Segue-se um retrato atual e realista Sobre essa questão:



DEFENSIVOS AGRICOLAS: ENTRE O POSSÍVEL E O DESEJÁVEL

*Antonio Licio


Se fosse possível produzir comida sem o uso de

agrotóxicos, hoje, em volume suficiente para

garantir a segurança alimentar do Planeta,

parece óbvio que os agricultores já teriam

eliminado esse custo há bastante tempo.

Infelizmente isto ainda não é possível, apesar dos

grandes avanços do controle biológico de pragas.

É preciso continuar investindo em Ciência, outra

Obviedade quase sempre desconectada desse

debate. Segue-se um retrato atual e realista sobre essa questão.



A relação da humanidade com pragas e doenças agrícolas é milenar e bíblica: dentre as dez pragas que teriam sido lançadas por Deus sobre o Egito Antigo no reinado do Faraó Ramsés II (1213-1270 ac) por sua intransigência quanto a liberação dos Hebreus, consta uma nuvem de gafanhotos que destruiu as lavouras daquela região e lastrou a fome e miséria por todo a região, forçando o Faraó a liberar aquele povo. Passaram-se mais de 2.000 anos e os bichinhos voadores continuam a ameaçar as lavouras, como foi o caso recente na fronteira Paraguai-Brasil. A diferença desta última invasão foi a existência de pesticidas – produtos químicos solventes em água – lançados sobre as nuvens dos insetos por nada menos que....aviões agrícolas, tecnologias que os antigos egípcios nem de longe pensariam um dia vir a existir e que poderiam ter mudado o curso da Historia e das religiões. O Egito na época era o maior celeiro agrícola do mundo pelos sedimentos depositados nas margens de seu Rio Nilo, tendo abastecido o Império Romano durante sua existência dali também nasceram as primeiras iniciativas de controle de insetos.


Por “pesticidas” considera-se todos os elementos químicos ou compostos capazes de controlar “pestes” como: 1) ervas; 2) insetos; 3) fungos; 4) ácaros; 5) nematóides; 6) bactérias; 7) vermes; 8) roedores, dentre outros. Fica claro que suas ações não se restringem aos usos agrícolas, mas também em defesa dos humanos e animais, quando propriamente utilizados. Mutatis mutandis, suas faltas também são dramáticas, alem da Praga do Egito. A Peste Bubônica do Século XIV (1350-1355) matou metade da população europeia de cerca de 100 milhões de pessoas à época e mais um tanto na Ásia e Oriente por falta de um inseticida capaz de eliminar... uma “pulga” - que usava ratos como hospedeiros. O Imperador D Pedro II perdeu seu filho mais novo e herdeiro do trono Pedro Afonso em 1850 com 1,5 ano de idade pela febre amarela, então endêmica no Rio de Janeiro. Desolado e amargurado procurou alternativas para o controle do mosquito “Aedis Egiptus” transmissor dessa doença e de outras, quando alguém lhe sugeriu aspergir nas áreas de concentração “fueloil” de embarcações diluído em água, o que fez e eliminou, além da febre amarela, a malária e a dengue, tendo criado para tal os pelotões de “mata-mosquitos” que perduraram na cidade com seus macacões amarelos até finais do século passado. Desinfetantes bactericidas aplicados em hospitais são exigidos pela sociedade para prevenção de infecções hospitalares. Da mesma forma, o uso de cloro nas aguas a serem consumidas pelos homens nas cidades está consagrado e não é questionado desde que dentro de limites cientificamente definidos. Mas, quando se trata de aplicações agrícolas – em lavouras e animais – todo tipo de reações contrárias são levantadas, como se possível fosse produzir alimentos sem o uso desses produtos cujo nome já encerra uma apreciação negativa: “pestes”.


Tipos de controles: químicos e biológicos


Um forte candidato a explicar as reações da sociedade contra pesticidas são os potenciais usos de controles biológicos aparentemente inofensivos ao homem e ao meio ambiente em substituição aos químicos. Usam de elementos da própria natureza, como insetos e microorganismos, naturais predadores de seus similares que atacam as lavouras e pecuárias. A falsa informação transmite ao consumidor a ideia de que essas tecnologias estão consagradas, tem baixos custos e não são aplicadas pelo agricultor porque este é “ganancioso” e não quer gastar um pouco mais de seus “ganhos fabulosos” em praticas ambientalmente saudáveis.


Controles biológicos são mais comuns de uso em produtos consumidos in natura (verduras e frutas)por serem mais suscetíveis de carregarem resíduos de pesticidas e terem valores específicos ($/kg) bem mais altos, portanto capazes de suportarem custos de controlesmais elevados. Entram no processo chamado de “produção orgânica”, onde somente estes são tolerados e excepcionalmente alguns químicos como “calda bordaleza” (sulfato de cobre !?). Produtos “orgânicos” logram preços até 100% mais elevados nos mercados do que seus similares comuns e levam esperanças a um controle mais sadio no futuro. Os problemas atuais são os custos e a fiscalização, uma vez que produtores assinam um protocolo de cuidados “orgânicos” com autoridades sanitárias, mas quando uma infestação aguda ocorre não há garantias do emprego somente dos métodos biológicos. Uma mesma falsa comunicação à sociedade sobre possíveis efeitos maléficos de pesticidas pode também levar o consumidor a “falsos orgânicos”.


Já para as grandes lavouras - soja, milho, arroz, trigo, etc – o controle biológico é praticamente inviável aos custos e tecnologias atuais, mas os riscos de contaminações ao homem e/ou meio ambiente são também muito baixos ou nulos. Mas o agricultor brasileiro ainda tem uma obrigação esdrúxula de manter uma “reserva legal” de mata nativa na propriedade entre 20-80%, o que leva a algumas pragas a “preferir” fazer estragos no seu “habitat” em lugar das lavouras! Isso leva a considerar não somente a toxidade dos pesticidas, mas também a exposição a seus riscos nas aplicações, técnicas, hoje denominadas de “Analise de Riscos” (Risk Assesment).


Criada pela Agencia de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA/USA) essa técnica hoje está incorporada aos protocolos do Ministério da Agricultura do Brasil e consiste, resumidamente, em 1) avaliação da toxidade do produto; 2) tempo da exposição ao meio ambiente e aos humanos. No caso dos humanos, a avaliação é feita quanto ao 1) consumo de alimentos e aguas com resíduos de pesticidas, 2) pela inalação, 3) absorção pela pele e 4) contato com os olhos. Para o meio ambiente, seus efeitos sobre as aguas, ar, outros vegetais e animais. Daí, limites ou concentrações dos elementos ativos são determinados como aceitos além de uso de EPI – equipamentos de proteção individual.

Consumo de pesticidas; “A dosagem determina o veneno” (Paracelsus, bioquímico 1493-1541, “pai” da toxicologia moderna)

Dentro desse contexto de controle dois elementos ainda aparecem como fundamentais para entender concentração dos usos dos pesticidas: os tipos de lavouras e os climas onde são plantadas. Frutas, verduras e arroz inundado (paddy) lideram a intensidade de uso; por outro lado, invernos rigorosos quebram os ciclos de vida de insetos e mirocroorganismos minmizando a aplicação de pesticidas. Disso resultam aplicações espenicas (kg/há) muito diversas tal como mostra a Tabela 1 para países selecionados. Observe-se que Costa Rica e Equador tem alto consumo especifico pela concentração na produção de frutos em climas equatoriais (café e bananas), França e Espanha com mínimas aplicações (climas frios); EUA e Brasil tem grandes lavouras de grãos com diferentes climas; China e Japão com grandes áreas de arroz e altas concentrações (o japonês tem a maior longevidade dentre todos os povos atuais.)

Embora os animais sofram desesperadamente pelos ataques de alguns insetos – carrapatos e moscas principalmente – são as lavouras as grandes consumidoras de pesticidas. Brasil e EUA tem áreas de lavouras semelhantes (85 e 100 milhões de ha) mas o Brasil tem o dobro de consumo especifico, pois lá cada safra é separada por invernos congelantes que matam os “bichinhos”, aqui, além da falta de inverno ainda dispomos de duplas safras anuais em 15 milhões de há.

Toda essa discussão leva a indagação maior: quais seriam os impactos econômicos em termos de redução de oferta e acréscimos de preços para um cenário hipotético de eliminação de aplicação de pesticidas sobre as lavouras ?

Para responder há que se investigar estudos que avaliaram os efeitos da não aplicação. Curiosamente esses trabalhos são muito restritos na literatura e depois de uma varredura selecionou-se o contido na Tabela 2 abaixo.

Observa-se que as perdas da não aplicação de pesticidas: seriam desastrosas no caso de frutas e verduras e para os grãos seriam menores, porém sobre o arroz seria significativa e seus preços certamente estouraram. Para estimar esses aumentos decorrentes de frustrações de produção há que se recorrer a um conceito econômico chamado “elasticidade-preço da demanda” que mede a variação de preços decorrentes de variações de quantidades. Essas estimativas são raras a níveis globais e quando existentes aplicam-se mais para áreas específicas. Mas um evento recente ilustra o fenômeno – geadas em cafezais do Brasil em 2021 – que reduziram a produção de 63,1 milhões para 47,7 milhões de sacas em relação a 2020 (25% de perdas locais e 7,5% ao nível mundial): os preços internacionais (tipo 6) dispararam: de um patamar entre US$100-120/saca desde 2014 para US$250/saca, a se manterem até que a produção brasileira se recupere em 2023. Para calcular os aumentos de preços internacionais de outros alimentos há que se dispor desse parâmetro – elasticidade-preço – que todavia só pode ser obtido se e quando houver frustrações de safras significativas, o que as estatísticas não revelam. Enquanto isso, a prudência e a seriedade recomendam a manutenção do uso dos pesticidas !

*Antônio Lício – Economista (PhD), Conselheiro do Fórum do Futuro


Bibliografia básica:

https://en.wikipedia.org/wiki/Pesticide e bibliografia respectiva




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