De acordo com os palestrantes, é preciso que se produza mais alimentos para alimentar um mundo que beira à fome, mas é necessário cuidado e uma produção que alinhe sustentabilidade conectada com o meio ambiente e as novas demandas
Promovido pelo Instituto Fórum do Futuro, o painel “O terceiro Salto da Bioeconomia Tropical Sustentável – Desafios da Economia do Conhecimento na Visão de Futuro”, abriu os debates do primeiro dia de evento. Como observado pelo moderador do painel, Fernando Barros, a produção de alimentos precisará crescer 20% para atender a demanda futura, desse total, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), o Brasil terá que responder com 40% do volume a ser produzido. O desafio é: como assegurar a alimentação para o mundo de uma forma sustentável?
Para aprofundar essa visão por meio da gestão integrada de dados e impulsionar novos mecanismos de ação, o diretor Geral da Esalq/USP e conselheiro do Fórum do Futuro, Durval Dourado, defendeu o impacto mínimo na produção sustentável de alimentos, em harmonia com os setores agrícolas, industrial e de serviços. “Alinhados com uma economia que utiliza todos os recursos, inclusive, os naturais. Precisamos liderar um movimento que valorize o social, o ambiental e o econômico”.
Em sua palestra Dourado apresentou a estratégia da técnica de irrigação para aumentar a produção por unidade de área e por produtividade, fazendo uma análise territorial para o desenvolvimento da agricultura irrigada no Brasil, com foco na conversão de áreas pouco produtivas em sistemas agrícolas sustentáveis.
A conversão, por exemplo, de áreas de pastagem para áreas de agricultura, com a implementação de sistemas de Integração Lavoura Pecuária, tanto com foco em agricultura quanto em pecuária, para poder aumentar a produtividade na área remanescente de pastagem, já é uma realidade no Brasil.
A área de pastagem no Brasil ocupa 22% do território e a agricultura 9%. Com o sistema de agricultura irrigada é possível não desmatar praticamente nenhum hectare, utilizando apenas as áreas já utilizadas pela agricultura e pecuária.
“Fisicamente, e fazendo um estudo de desagregação, o Brasil tem 73.879.688 hectares de agricultura e 164.634.141 de pastagem, observem que isso é de área física, esse é o aspecto da área que iremos utilizar para calcular à área adicional irrigável para atender a demanda da sociedade e do aumento da produção de alimentos”, explica Dourado.
Em seu estudo foi realizado um mapeamento das áreas antropizadas e da demanda hídrica necessária. “Como uma das estratégias para atender a demanda por alimentos sem desmatar, identificamos uma área utilizada com agricultura de 26.694.397 hectares, e outros 26.725.999 de área adicional irrigada em terra utilizada para pastagem, se somarmos essas duas áreas teremos 53.420.396 hectares irrigados”, explica o diretor da Esalq e adianta que todos esses municípios já foram identificados em sua pesquisa.
Ciência e Sociedade
O ex-presidente da Embrapa e atual conselheiro do Fórum do Futuro, Silvio Crestana, contribuiu para o debate construindo uma ponte entre ciência e sociedade. E abordou os grandes desafios das próximas décadas, inseridos no nexo água, alimento e energia.
“O nexo é quando reconhecemos que há uma interdependência entre diferentes indivíduos: água, alimento e energia são dependentes. Quando falamos desses itens, sabemos que este é um problema vital, pois não há como viver sem resolver esse enigma”, explica Crestana.
O Brasil se destaca por ter um bom histórico de desenvolvimento nestas áreas, tendo resolvido questões como a insegurança alimentar no país, dado que hoje se estende para o mundo. A expectativa do aumento da demanda de alimentos terá que ser resolvida e 40% desse suprimento sairá do Brasil.
“Temos uma tempestade perfeita, crescimento de demanda e de população, com recursos naturais finitos, o problema está colocado. Se somarmos aos problemas climáticos e de governança que temos hoje no Brasil, vemos o quanto é importante lidar com esses desafios de maneira adequada”, afirma o conselheiro.
A questão é: como trabalhar os limites críticos? Para Crestana não é possível trabalhar com a ideia de que temos energia e água suficientes. “Vivemos um impacto de crise hídrica e energética no Sul e Sudeste do Brasil, atraso da colheita, quebra da safra e o La Ninã, são exemplos simples. O problema já existe, não estamos fazendo uma projeção, agora é preciso resolver este gargalo imediatamente”.
Do ponto de vista de ciência, é preciso lidar com a complexidade, com sistemas reais e inúmeras variáveis. “O grande desafio que teremos pela frente é unir dois capitais. O capital natural que é finito (água, alimento e energia) e o capital baseado em conhecimento, este é o gap, fazer um capital único que trabalhe com todos os biomas. O Brasil tem tudo para ser parte da solução e não do problema”.
A concepção do Projeto Biomas começou há oito anos e a implantação te
ve início em meados de 2019, no Polo Demonstrativo dos Cerrados, em Rio Verde (GO). Agora estão sendo iniciados os trabalhos na Amazônia e na Caatinga.
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