Agricultura regenerativa eleva os estoques de carbono e melhora a qualidade do solo no Cerrado
- Marianna Ribeiro Oliveira
- 29 de jul.
- 3 min de leitura
Estudo do Regenera Cerrado revela ganhos em saúde do solo, produtividade e sustentabilidade no cultivo de soja e milho sob manejo regenerativo

A adoção de práticas regenerativas tem se mostrado eficaz na manutenção e melhoria da qualidade do solo em sistemas agrícolas de larga escala no Cerrado brasileiro. É o que mostra um estudo do Projeto Regenera Cerrado, que avaliou fazendas com histórico na aplicação e condução dessas práticas no cultivo de soja e milho. Os resultados revelam avanços importantes em indicadores, verificados no solo, como biodiversidade, matéria orgânica, estabilidade de agregados e estoque de carbono.
Um dos destaques é o monitoramento dos teores de matéria orgânica do solo, componente essencial para o funcionamento saudável dos agroecossistemas, que dentre suas inúmeras funções, atua como agente cimentante na formação de agregados do solo, o que favorece uma melhor qualidade física da “camada arável”. A agregação também afeta direta e/ou indiretamente outros processos e características do solo, como por exemplo o armazenamento de água, a ciclagem de nutrientes, as trocas gasosas, a aeração e a manutenção da biodiversidade. Adicionalmente, os agregados protegem o carbono da rápida decomposição, contribuindo para o seu maior acúmulo e permanência no solo.
Segundo o professor e pesquisador Dr. Marcos Gervasio Pereira, da UFRRJ, os dados confirmam os efeitos positivos das práticas regenerativas. “Observamos maior estabilidade dos agregados do solo, indicando melhor qualidade física na camada superficial. Também identificamos maior biomassa microbiana e diversidade de fungos micorrízicos arbusculares, que favorecem a saúde do solo e a absorção de nutrientes”, afirma.
Em áreas manejadas com práticas regenerativas, observou-se maior estabilidade de agregados nos primeiros 10 cm de profundidade, com valores de diâmetro médio ponderado (DMP) entre 2,5 e 4,0 mm, o que reflete uma camada superficial em condição física favorável à produção agrícola. Tal condição envolve o crescimento radicular, a redução da compactação e melhoria da infiltração de água — características essenciais para o bom desenvolvimento das culturas de grãos.
Outro resultado que merece destaque, refere-se à variação do estoque de carbono do solo (∆EstC) das propriedades avaliadas em comparação ao solo da área de vegetação típica do bioma Cerrado nos primeiros 30 cm profundidade do solo (valor obtido em estudos desenvolvidos na região: 68 t ha-1) (Figura 1). Usando esse valor como referência foi possível observar que as Fazendas F01R e F04R estão acumulando mais carbono que os solos sob a vegetação nativa do Cerrado nessa profundidade (13 e 11 t ha-1, respectivamente).

O pesquisador destaca que o acúmulo de carbono no solo também melhora a fertilidade e o aproveitamento de adubos, além de contribuir para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, ao reduzir a concentração de CO₂ na atmosfera.
Gervasio avalia que os dados reforçam a viabilidade técnica e econômica da agricultura regenerativa em larga escala. “Essas práticas trazem ganhos reais na qualidade do solo, reduzem a dependência de insumos químicos, aumentam a eficiência produtiva e podem diminuir custos no médio e longo prazo. Isso estimula a adoção por produtores interessados em sistemas mais sustentáveis e resilientes”, explica.
Para os produtores, o estudo comprova que tratar o solo como um organismo vivo compensa. Com menos revolvimento, cobertura vegetal contínua, diversidade de culturas, raízes ativas o ano todo e integração lavoura-pecuária-floresta, é possível melhorar a qualidade do solo, reduzir insumos e alcançar melhores resultados econômicos e ambientais.
Além dos ganhos agronômicos, a agricultura regenerativa promove benefícios sociais e ambientais, fortalecendo a imagem do produtor no mercado e na sociedade. Solos saudáveis geram colheitas mais estáveis, alimentos de melhor qualidade e maior resiliência frente às mudanças climáticas

Sobre o Projeto Regenera Cerrado
O Regenera Cerrado tem como objetivo disseminar técnicas de agricultura regenerativa, respaldadas cientificamente e que sirvam de exemplo escalável de produção de soja e milho para o Brasil e para o mundo. Idealizado no Instituto Fórum do Futuro, em 2022, o projeto conta com o patrocínio da Cargill, execução operacional do Instituto BioSistêmico (IBS) e parceria de nove instituições nacionais, além de 12 fazendas da região do município de Rio Verde, no sudoeste de Goiás.
As instituições parceiras no projeto são: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig); Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS); Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano (GAPES); Instituto Federal Goiano; Universidade Federal de Lavras (UFLA); Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ); Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); e Universidade de Brasília (UnB).




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