
Adriano Venturieri*
Em uma tarde muito quente em Siracusa (atualmente Sicília, na Itália), quando Arquimedes entrou em sua banheira, atentou-se para o princípio do empuxo. Notou que a quantidade de água que saía da banheira era equivalente ao volume de seu corpo. Uma propriedade interessante, a partir do princípio da impenetrabilidade que diz: “dois corpos distintos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço e ao mesmo tempo”. Princípio notável. Perceptível a olho nu, mas que ainda assim mantem um debate que se estende até hoje.
Será que este princípio deve ser levado em consideração nos dias atuais em relação aos sistemas de produção, principalmente na região amazônica? A resposta é um retumbante não. Entendo que, para podermos pensar em uma sustentabilidade da produção agropecuária, hoje, precisamos adequar este conceito para a realidade das tecnologias existentes e sobre a ocupação da “nossa banheira” ou do nosso espaço.
Evidentemente não estamos falando de um espaço “stricto sensu”, mas sim do espaço em conceito de paisagem, de território. É senso comum que precisamos aumentar a oferta alimentos para o mundo, assim como também é senso, quase, comum que não necessitamos avançar sobre novas áreas, ainda recobertas por florestas nativas, para que possamos aumentar a produção.
Então qual a solução? Além do fundamental financiamento de pesquisas para aumentarmos a produtividade, necessitamos ocupar o mesmo espaço com diferentes culturas. Como? Precisamos explorar as diversas dimensões do espaço geográfico em produção.
É importante compreender que diversas “áreas” podem coexistir, ao mesmo tempo, em um único espaço, ao considerarmos uma estratificação múltipla sob condição sucessional: culturas agrícolas, pastagens, plantios de árvores. Precisamos olhar o espaço de forma diferente e pensar em sistemas de produção em 3D, em camadas, sobrepostos e complementares. Quando pensamos na Amazônia primeiramente vem a nossa mente os sistemas agroflorestais (SAF – caracterizados pelo componente arbóreo, como: açaí, cacau, bacuri, taperebá, cupuaçu, banana, andiroba, etc. ). Mas também precisamos aumentar outros sistemas integrados com lavoura, pecuária e floresta (ILPF), que vem crescendo na região e comprova a viabilidade da produção 3D.
Além disso, necessitamos ter respostas para perguntas básicas: Onde? Quanto? O quê? Precisamos pensar em políticas públicas baseadas em informações técnicas que reflitam as realidades locais, onde os anseios das comunidades sejam predominantes e não somente os “achismos convictos” residentes em escritórios refrigerados de burocratas que pensam de forma uniforme para uma região desigual e contrastante, além de dinamicamente alterável.
Ao encontrar o “onde”, podemos iniciar nossa multiplicação do espaço para propor as tecnologias mais adequadas àquele espaço geográfico. Este conhecimento é fundamental para sabermos o “quanto” de área temos disponível para fazer o planejamento e estabelecer o “que” fazer para alinhar nosso ambiente com as demandas das sociedades locais. Não é possível discutir políticas públicas viáveis, sustentáveis, sem informações verdadeiras e que reflitam a realidade local. Caso contrário, navegaremos em águas turbulentas e nossa “banheira” poderá “fazer água” levando nosso território a um grande naufrágio.
*Adriano Venturieri: Embrapa Amazônia Oriental; Um dos autores no livro " As Tecnologias Sustentáveis que Vem dos Trópicos", organizado pelo Fórum do Futuro
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