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CAFÉS ROBUSTAS AMAZÔNICOS

Atualizado: 11 de abr. de 2022






A construção de um legado sustentável, econômico e social


*Enrique Anastácio Alves


A CAFEICULTURA BRASILEIRA é sinônimo de tradição, tecnologia e diversidade. Uma grande paleta genética, ambiental e cultural, que torna a atividade uma verdadeira obra prima, joia da agricultura tropical. Poucas culturas agronômicas têm tamanha importância no ecossistema social, urbano e rural.


O café, tem no continente Africano o seu centro de origem e diversidade genética. Atualmente, são conhecidas 124 espécies dentro do gênero Coffea. Mas, apenas as espécies Coffea arábica e Coffea canephora tem importância econômica em escala global. A espécie arábica foi originada na Etiópia e apresenta maior aptidão para se desenvolver em regiões de altitudes elevadas e climas amenos. Já as plantas da espécie canéfora, formada pelas variedades botânicas conilon e robusta, foi originada em Guiné, na Bacia do Congo e possui distribuição geográfica em vários países africanos. As plantas de canéfora se adaptam às terras de baixa altitude e temperaturas mais elevadas.


Apesar de ser considerada uma planta exótica no Brasil, o café encontrou condições adequadas para se desenvolver em plenitude. Isto, talvez se explique pelas semelhanças entre os continentes, africano e sul americano, que segundo estudiosos, há mais de 200 milhões de anos eram indissociáveis e parte de um bloco único, denominado de pangeia (do grego, todas as terras).


As plantas de arábica e canéfora possuem grande diversidade genética, que em combinação com as variações edafoclimáticas (clima e solo) e culturais, acabam por formar uma diversidade de regiões produtoras dentro do Brasil. São “terroirs” que produzem cafés únicos, valorizados por suas características culturais, históricas e sensoriais.


Em poucas palavras, a cafeicultura brasileira é o retrato fiel da formação miscigenada do seu povo, espalhado por um país de dimensões continentais e biomas diversos. É tamanha pluralidade que é como se o Brasil guardasse em si, amostras de grande parte da variabilidade existente na cafeicultura mundial.


Se apenas a área cultivada com lavouras de café no Brasil, mais de 2 milhões de hectares, fosse convertida em uma nação, teria a metade do tamanho de países como: Dinamarca, Países baixos e Suíça. Como dito, o Brasil pode ser considerado a “Nação do café”, sendo responsável pela produção de cerca de 35% do café consumido no mundo, aproximadamente de 160 milhões de sacas. É o maior produtor de grãos da espécie arábica e o segundo maior da espécie canéfora, atrás apenas do Vietnã. Tudo isso tem grande importância em escala global, uma em cada três xícaras consumidas no mundo vem do Brasil.


Outro fato que vale à pena ser mencionado é que a cafeicultura brasileira é uma das mais eficientes, sustentáveis e socialmente justas do mundo. O país possui rigorosas leis trabalhistas e, principalmente durante a safra, tem intensa fiscalização quanto ao cumprimento da legislação. Apenas a cadeia do café no Brasil é responsável pela geração de, aproximadamente, oito milhões de empregos, diretos e indiretos. É também responsável pelo sustento direto de mais de 80 mil famílias rurais.


Além disso, a grande maioria das áreas de lavouras em produção, são tradicionalmente cultivadas há várias gerações. E, tem preservado e aumentado a sua capacidade de suporte à atividade agronômica ao longo dos anos. Isso, corrobora perfeitamente com a definição global de sustentabilidade, em quê: “As necessidades de sobrevivência e qualidade de vida da geração atual, não podem se sobrepor as necessidades das futuras gerações. “


O Brasil tem números que demonstram que vem evoluindo em base sustentável. Nos últimos 20 anos, o país reduziu a sua área cultivada com café em 19% e aumentou a sua produção em 58%. Isso graças ao emprego de novas tecnologias que fizeram com que a produtividade média das lavouras brasileiras tivessem um salto de 93%, de 14 para 27 sacas por hectare.

O café faz parte da história do Brasil e acompanhou as transformações econômicas, culturais e sociais do país. A cultura é considerada junto a extração do pau Brasil, do ouro e da cana de açúcar, um dos principais ciclos de geração de riquezas. E tem, ao longo de todo esse período, se mostrado uma opção sustentável de geração de riquezas e fixação do agricultor familiar no campo.


Apesar, de reconhecido mundialmente como um grande produtor de commodity, a “Nação do café” também se orgulha da diversidade sensorial e pela qualidade primorosa dos cafés que produz. De Norte a Sul desse país continental, das planícies às montanhas, se produz café. Possivelmente, em nenhuma outra nação do mundo possa encontrar tamanha diversidade genética, ambiental e cultural em suas lavouras.


DE NORTE A SUL DO BRASIL? ENTÃO, EXISTE CAFÉ SENDO CULTIVADO NA AMAZÔNIA? Ainda que isso possa surpreender a muitos, a resposta é sim. Lavouras de café não são exatamente uma novidade na região norte do Brasil. Na verdade, a Amazônia foi a porta de entrada dessa cultura no país. Foi em 1727, cercado de histórias e muitas controvérsias, que as primeiras mudas e sementes foram trazidas da Guiana Francesa. O militar luso-brasileiro Francisco de Melo Palheta, a pedido do governador do Maranhão e Grão-Pará, foi o responsável pela missão que culminou com o plantio das primeiras lavouras de café no Estado do Pará.


Apesar da região norte ser o ponto de origem, a expansão da cafeicultura no Brasil, se deu mesmo no sudeste do país. As terras dessa região possuíam clima favorável e facilidades como: maior disponibilidade de mão de obra, logística e tecnologia. Combinação tão bem-sucedida que o Estado de Minas Gerais se consolidou como o maior produtor de café do país.


Entretanto, a história do café na Amazônia não acabou em seus primórdios. Depois de um longo período de dormência, na década de 1970, iniciou um novo capítulo. O governo militar à época, com o intuito de garantir a soberania nacional, fez uma grande campanha de incentivo à colonização da região norte do país. Com o slogan: Integrar para não entregar! Incentivou milhares de imigrantes a marcharem das regiões sul e sudeste, em busca do “Eldorado Amazônico”. Homens e mulheres, famílias inteiras, buscavam em regiões longínquas a oportunidade da terra própria e melhores condições de vida.


Estes destemidos pioneiros, principalmente, mineiros, capixabas e paranaenses, traziam em suas malas, esperança, tradição e mudas de café. Eram tempos difíceis e de grandes desafios, principalmente para os paranaenses que fugiam da “geada negra”, que dizimou grande parte de suas lavouras, no sul do país.


Com isso, novas lavouras surgiram na Amazônia, principalmente no Estado de Rondônia. Inicialmente, foram cultivados cafeeiros da espécie arábica. Mas, por influência dos capixabas, também foi introduzida uma nova espécie de café, Coffea canephora, mais conhecida popularmente pelas suas variedades botânicas conilon e robusta.


As plantas de canéfora já eram velhas conhecidas dos capixabas. As primeiras lavouras dessa espécie foram implantadas no Brasil, justamente no Estado do Espírito Santo, em 1912. Mais rústicas e produtivas, estes cafeeiros se adaptaram muito bem as terras baixas capixabas. E isso não foi diferente para a Amazônia! O clima quente e úmido, aliado a solos férteis, foram perfeitos para a nova espécie, que logo se tornou dominante nas lavouras do Norte do país. Tanto que, atualmente, é estatisticamente insignificante a presença de plantas de arábica em terras rondonienses.


Mas, foi na década de 1990 que o milagre da hibridação ocorreu na cafeicultura Amazônica. Materiais genéticos superiores foram trazidos para a região, numa parceria de intercâmbio científico entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa e o Instituto Agronômico de Campinas – IAC. Com isso, criou-se uma verdadeira coleção genética de progênies de café canéfora, das variedades botânicas conilon e robusta. Esse verdadeiro tesouro genético foi, aos poucos, compartilhado. Foram mais de 7 toneladas de sementes, selecionadas cientificamente, que foram propagadas nas lavouras rondonienses e que gerou uma verdadeira alquimia genética em solos Amazônicos.


Essa mistura, lapidada ao longo de mais de quatro décadas, formou a base genética da cafeicultura Amazônica. São plantas, híbridas interespecíficas de conilon e robusta, cuja as características dominantes são da variedade Robusta. São plantas vigorosas, tolerantes ou resistentes a importantes pragas e doenças, muito produtivas e que originam uma bebida encorpada e agradável. Estas plantas, forjadas na Amazônia, são parte constituinte de um “terroir” único. Atualmente, mais de uma centena de cultivares clonais são cultivados pelos produtores em Rondônia. A seleção genética (empírica e científica), aliada a técnica de clonagem foi um dos grandes propulsores da evolução da cafeicultura na Amazônia, principalmente na última década.


Mas, além da evolução genética e a propagação clonal, outras tecnologias foram incorporadas aos cultivos amazônicos: novos arranjos espaciais, técnicas de poda, irrigação, correção e proteção do solo e adubação. Tudo isso, na forma de um manejo sistêmico e integrado, que tem como princípio básico o tripé: produtividade, qualidade e sustentabilidade. Rondônia”, possui cerca de 50% das lavouras irrigadas. E, com um índice de lavouras remanescentes, propagadas por meio de sementes, superior a 30%. Não há outra região no país que ainda preserve tamanha diversidade genética em seus cafezais.


O CAFÉ, É DEFINITIVAMENTE, UM DOS MAIORES LEGADOS DA ÁFRICA PARA O BRASIL E AMAZÔNIA. Apesar da origem africana, se pode dizer que o café se naturalizou brasileiro. Existem até novas cultivares e variedades que foram desenvolvidas no Brasil, por instituições vinculadas ao Consórcio brasileiro de pesquisa e desenvolvimento do café. Mas, ainda assim, alguns podem se perguntar: Como uma cultura exótica ou “naturalizada, pode representar algo de positivo para a Amazônia? Não é um contrassenso? ... Definitivamente, não! O café, pode se tornar uma cultura “coringa” nas estratégias para a conservação ambiental na Amazônia.


A cafeicultura, em todo o mundo, tem um vínculo muito forte com a agricultura familiar. É uma cultura perene, que possui certa rusticidade e grande plasticidade agronômica, se adapta bem a diversos modelos de cultivo: a pleno sol, sistemas agroflorestais e lavouras consorciadas. Se mostra viável, tanto em grandes empreendimentos agrícolas, quanto em uma agricultura de pequena escala. Até mesmo para cafeicultores indígenas que tem um modo peculiar de agricultura, realizada em clareiras e agroflorestas.


Devido a sua alta produtividade e o fato de os grãos serem valorizados segundo o seu perfil de qualidade, o café pode gerar qualidade de vida, mesmo em pequenas áreas. Talvez por isso, a cafeicultura em Rondônia, estado responsável por mais de 90% de todo o café produzido na Amazônia, é a principal fonte de renda para mais de 17 mil famílias. Em média, esses agricultores cultivam áreas inferiores a 5 hectares. Estas, são áreas que vem se tornando, a cada ano que passa, mais produtivas, tecnológicas e lucrativas. Com isso, não apenas fixa a família no campo, como também diminui a pressão sobre a floresta. Em áreas de agricultura moderna, não há necessidade de explorar novos espaços para se obter mais renda. A conservação dos solos, mananciais e a manutenção da diversidade (macro e microbiológica), começa a ser encarada como estratégia para controlar pragas, doenças e os desafios do clima. Estes cafeicultores enxergam as suas terras como um verdadeiro legado, que deve ser passado para as novas gerações.


A cafeicultura apresenta em números o resultado obtido por meio do uso de boas práticas agronômicas e novas tecnologias de produção. Ao se observar o gráfico, “Evolução da produção versus área cultivada em vinte anos”, há um inequívoco aumento da capacidade de suporte do solo. Graças a um salto de produtividade no campo, as lavouras que em média produziam menos de dez sacas por hectare, atualmente, produzem quase 40 sacas. Com isso, ainda que a área cultivada no estado tenha reduzido mais de 300%, a produção se manteve acima dos dois milhões de sacas. Em resumo, ao longo de duas décadas, houve uma evolução na eficiência de uso da terra, resultado da contínua substituição das lavouras de perfil quase extrativista por outras que incorporam conceitos de tecnologia e sustentabilidade.


O simples uso de clones ao invés de sementes não garante uma lavoura produtiva. É preciso também que ela seja bem manejada, seguindo todas as recomendações técnicas, para que as plantas expressem todo o seu potencial genético. No caso das plantas de canéfora, além do espaçamento, também é preciso considerar o número de hastes por planta e, consequentemente, por hectare.


Nas lavouras, formadas a partir de 2010, o número de hastes por planta foi reduzido para três ou quatro, culminando em aumento da eficiência produtiva das plantas. Essa redução, associada à utilização de poda de produção, permitiu o uso de espaçamentos mais adensados, com predominância de três metros entre linhas por um entre plantas (3 x 1), totalizando 3.333 plantas por hectare. Este número é mais que o dobro praticado no passado e, apesar de acarretar em redução na produtividade por planta, promoveu maior produção por área.


Dentre todos os fatores de produção, considerando-se apenas a evolução do arranjo espacial, pode-se estimar o ganho de produtividade obtido com o manejo das plantas. Em experimento coordenado pela Embrapa, em um hectare de café plantado com tecnologia adequada, no espaçamento 3 × 2, totalizando 1.666 plantas, foi possível obter cerca de 2,6 quilos de grãos beneficiados por planta e pouco mais de 70 sacas por hectare. Neste mesmo experimento, no espaçamento reduzido, 3 × 1, com densidade para 3.333 plantas por hectare, obteve-se cerca de 1,9 quilos de grãos beneficiados por planta e a produtividade chegou a, aproximadamente, 105 sacas. Neste caso, o ganho em produtividade foi de aproximadamente 50%.


Estes números sugerem o potencial de ganho que se pode obter com o uso eficiente da área cultivada e os produtores do estado têm replicado estes novos arranjos espaciais em suas propriedades. Isso, em parte, explica como foi obtido o aumento na produtividade do café em Rondônia nas duas últimas décadas. Fruto da dedicação dos produtores, trabalhando a combinação de manejo adequado, novos arranjos espaciais e clones de elite. Pesquisas em andamento sugerem que ainda há muito para evoluir.





Outra questão interessante é que existe potencial para evoluir ainda mais. Apesar de a média do estado ser próxima a 40 sacas por hectare, não raro, se encontram talhões de café, em seu ótimo agronômico, com produtividade acima de 180 sacas. Também, é fato comum a expectativa de se obter uma produtividade média, acima de 100 sacas, em lavouras com nível tecnológico adequado. Ampliar a área de atuação destas bolhas de excelência agronômica, cafeicultura moderna, representará um salto quântico para uma atividade, que já se encontra em franca evolução.


Atualmente, a cafeicultura está entre os maiores geradores de Impostos sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS) agrícolas do Estado de Rondônia, produzindo, consumindo e exportando, pouco mais de 2 milhões de sacas, em uma área inferior a 70 mil hectares. Com uma política séria de incentivo ao aumento da produtividade e melhoria da qualidade, o estado pode dobrar a produção e o faturamento no campo. Isso, sem a necessidade de desmatar um único hectare. Não é milagre, é tecnologia! E diversos cafeicultores já tem comprovado essa possibilidade, com lavouras que produzem, em média, 100, 120 e 140 sacas por hectare.


No gráfico, “Evolução da produção versus área cultivada em vinte anos”, se observa que área cultivada há cerca de 20 anos atrás, era superior a 300 mil hectares. Estas áreas abandonadas pela cultura, hoje são pastagens, capoeiras ou outras culturas de subsistência. Se o estado voltasse a plantar café nestas áreas abandonadas, mas com a produtividade atual, Rondônia poderia ter uma produção aproximada de 12 milhões de sacas. Sem derrubar uma única árvore! Outra conta rápida, se os 300 mil hectares fossem cultivados com lavouras modernas e uma média de 80 sacas por hectare, o estado produziria, aproximadamente 24 milhões de sacas. Isso significa que, apenas o Estado de Rondônia, poderia ter uma produção parecida com a do Vietnã, maior produtor de café canéfora do mundo. Em quantas regiões brasileiras, ou do mundo, isso seria possível?


Sendo assim, apesar de muitos consumidores tremerem na base quando se fala em agricultura na Amazônia, talvez esta seja a “salvação da lavoura”, ou melhor, da floresta. Investir em atividades sustentáveis e que sejam capazes de proporcionar renda e qualidade de vida, tanto no campo quanto nas cidades, parece ser uma estratégia inteligente.


Na Amazônia, além das florestas, o café ajuda a preservar também o que muitas vezes está esquecido nos discursos de conservação e sustentabilidade: o fator humano. Os habitantes dessa região dependem dos recursos do meio para sobreviver e precisam buscar meios de uma convivência harmônica, de forma a conservar floresta, sua biodiversidade e garantir a qualidade de vida e dignidade humana dos cidadãos da Amazônia.


Iniciativas de inserção social estão acontecendo de uma forma orgânica e natural junto à evolução da cadeia produtiva do café. A cafeicultura amazônica nunca foi tão plural e inclusiva, mulheres, jovens e indígenas são parte fundamental e movimentam as lavouras. A Aliança Internacional do Café - IWCA no Brasil, tem em Rondônia um de seus capítulos mais bonitos.


Outro orgulho da Cafeicultura Amazônica diz respeito ao protagonismo dos povos originais. Os indígenas, que habitavam as florestas brasileiras antes de qualquer desbravador, cultivam há mais de 30 anos o café nas suas terras e, agora, começam a enxergar na produção de cafés especiais uma forma sustentável de obter recursos financeiros em meio à floresta. Por mais revolucionário que isso possa parecer, não deveria ser algo tão extraordinário assim. Não tem os cafés a sua origem nas clareiras e nas bordas das florestas africanas? Seria apenas uma espécie de resgate. O café na Amazônia é, além de tudo, um “blend’ (mistura) de aromas e sabores. Verdadeira combinação de tradição, tecnologia e origem.


Conservar a floresta pode alimentar o corpo e adoçar a alma. Os Robustas Amazônicos têm sabores e aromas agradáveis, possuem doçura e acidez suaves, corpo aveludado e retrogosto marcante. São cafés que têm em sua bebida características que lembram caramelo, castanhas, chocolates, frutas secas e nibs de cacau (sementes fermentadas, secas, torradas e trituradas), além de carregar, de forma intrínseca, a história, a preservação ambiental e a marca de sua gente.


Foi na Amazônia que os cafés robustas encontraram o ambiente para desenvolver em sua plenitude. Uma terra de clima quente e úmido, em que a vida permeia todos os ambientes. Riqueza expressa em fauna e flora que, em sua totalidade, torna o ambiente Amazônico único e um dos mais impressionantes do planeta. Sejam nas florestas ou nos cafezais, a natureza sempre encontra um caminho para proliferar, interagir e coexistir. Foi este “Terroir amazônico”, o cenário em que ocorreu a gênese de um dos capítulos mais emblemáticos da cafeicultura nacional.



OS ROBUSTAS AMAZÔNICOS TEM QUALIDADE, PLURALIDADE E RECONHECIMENTO. Uma demonstração disso, está no reconhecimento da primeira Indicação Geográfica (IG), do tipo Denominação de Origem, para cafés canéfora sustentáveis no mundo. Trata-se da Região “Matas de Rondônia” que produz os Robustas Amazônicos. Um grão cuja sua excentricidade e características sensoriais únicas têm conquistado a atenção dos consumidores de cafés finos no Brasil e no mundo.


A região da IG “Matas de Rondônia”, composta por 15 municípios, possui 58,4% das unidades de produção de café do estado (10.147 famílias). Considerando as 54.381 pessoas ocupadas na cafeicultura no estado, 29.630 (54,5%), também estão nessa região.


A IG “Matas de Rondônia”, tem grande importância econômica e social, possui cerca de 17% da população e da extensão territorial do estado. Detém mais de 60% das áreas de lavouras de café e gera 83% da produção de Rondônia. A relação dessa região com a atividade agropecuária é forte e em alguns municípios, como é o caso de Alto Alegre dos Parecis, 56% da população está ocupada nessa atividade que é responsável por mais de 50% do PIB do município. É importante salientar que, mesmo para os municípios menos dependentes da atividade agropecuária, a vida econômica, cultural e social está vinculada a Agricultura. Em resumo, qualquer trabalho desenvolvido em prol da cafeicultura nessa região, pode ter um impacto direto na vida de mais de 300 mil pessoas.


Se o mundo, apenas soubesse o poder de transformação que a cafeicultura tem, teria outros olhos para os grãos produzidos na Amazônia e os valorizariam ainda mais no momento da compra. Será que a Amazônia não merece algo a mais que um “fairtrade” (comércio justo)? Que tal um “green forest trade” (comércio verde da Amazônia sustentável)?


*Enrique Anastácio Alves - Engenheiro Agrônomo, mestre e doutor em Engenharia Agrícola, Pesquisador da Embrapa Rondônia

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