Controle biológico com fungos exige atenção na escolha e no uso dos produtos
- Marianna Ribeiro Oliveira
- 27 de ago.
- 4 min de leitura
Atualizado: 29 de ago.
Pesquisador do Regenera Cerrado orienta como identificar bons produtos comerciais e evitar erros comuns no manejo com fungos entomopatogênicos

O controle biológico de pragas agrícolas pode ser realizado com o uso de macrorganismos, como predadores e parasitóides, e microrganismos, entre os quais se destacam os fungos entomopatogênicos (microrganismos capazes de infectar e matar insetos por meio do contato direto com seu corpo).
Esses fungos, em alguns casos, apresentam amplo espectro de ação, atingindo diferentes tipos de insetos, tanto mastigadores como sugadores, o que os torna mais versáteis em comparação a bactérias e vírus, que geralmente têm ação restrita às lagartas.
O uso de fungos entomopatogênicos no controle de pragas vem se consolidando como uma estratégia eficiente e sustentável nas lavouras brasileiras. No entanto, para garantir bons resultados, é fundamental compreender o funcionamento desses microrganismos e adotar cuidados específicos na escolha, no manuseio e na aplicação dos produtos.
Esse tema tem sido amplamente debatido com produtores rurais do Sudoeste Goiano por meio das ações do projeto Regenera Cerrado, uma iniciativa de pesquisa, desenvolvimento e inovação que promove práticas de agricultura regenerativa no Cerrado. O pesquisador Marcos Faria, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen) e da Embrapa Meio Ambiente, integra a equipe técnica do projeto e tem contribuído significativamente para o debate, apresentado os princípios do controle biológico com fungos em eventos e dias de campo voltados a agricultores e técnicos da região.
“O controle biológico com fungos é uma ferramenta poderosa para a agricultura regenerativa. Mas é essencial que os produtores conheçam os limites e cuidados técnicos dessa prática para não comprometerem a eficácia do controle ou a segurança da produção”, ressalta Faria.
Segundo o pesquisador, diferente dos produtos químicos, os fungos são organismos vivos e, por isso, exigem atenção especial. “Um dos maiores desafios está na qualidade dos produtos comerciais. Muitos apresentam baixa concentração de estruturas infectivas, utilizam cepas obsoletas ou possuem vida de prateleira curta. Inclusive, o armazenamento inadequado e a exposição a altas temperaturas podem comprometer totalmente a eficácia do produto”, alerta.
Outro ponto crítico destacado por ele é a mistura de tanque com outros defensivos, já que muitos produtos químicos são incompatíveis com fungos e podem matar os microrganismos antes mesmo da aplicação, inutilizando o tratamento.
Falta de informação e gargalos no mercado
Um dos grandes desafios enfrentados atualmente pelos produtores é a falta de informação confiável. Embora os produtos devam apresentar orientações claras em seus rótulos e bulas, isso nem sempre acontece. “Muitas vezes, essas informações são baseadas em laudos obtidos por metodologias inadequadas, herdadas da avaliação de defensivos químicos (até recentemente, antes da publicação da Lei dos Bioinsumos, os produtos biológicos eram considerados como “agrotóxicos de natureza biológica” e não como “bioinsumos”), o que prejudica a análise da eficácia dos produtos biológicos”, explica o pesquisador.
Além disso, a grande variedade de produtos disponíveis no mercado e as “soluções mágicas” apresentadas por algumas empresas acabam confundindo o produtor. “Não existe produto milagroso. O que precisamos é de boas cepas, bem formuladas, com garantia de qualidade e instruções claras para o uso, evitando subdoses”, complementa.
Muitos produtos informam a concentração apenas em UFC (Unidades Formadoras de Colônias), mas, segundo Faria, o produtor deve ficar atento à quantidade de conídios, que são as estruturas dos fungos entomopatogênicos responsáveis por infectar os insetos. “Nem sempre o número de UFC representa estruturas realmente infectivas. O ideal é saber a quantidade de conídios viáveis e, sempre que possível, vigorosos”, pontua.
Faria também faz um alerta para que os produtores não escolham produtos apenas com base no preço por quilo ou litro, mas considerando a qualidade da cepa, a dose recomendada e a garantia de eficácia. “Um produto barato que não funciona acaba saindo caro”, reforça.
A adoção do controle biológico com fungos representa um avanço para a agricultura sustentável, mas exige responsabilidade e conhecimento técnico. A atuação do projeto Regenera Cerrado nesse contexto tem sido essencial para aproximar ciência e prática no campo, promovendo soluções que regeneram o solo, aumentam a biodiversidade e reduzem o uso de químicos nas lavouras.
Para garantir bons resultados no controle biológico de pragas com fungos entomopatogênicos, é importante observar alguns cuidados na escolha dos produtos. Confira a seguir um resumo das principais orientações compartilhadas pelo pesquisador do Regenera Cerrado.

Para mais detalhes, confira o conteúdo completo da apresentação “Princípios do Controle Biológico de Insetos-Praga com o Uso de Fungos”, realizada pelo pesquisador Marcos Faria no 3º Dia de Campo Regenera Cerrado. Acesse o link: https://bit.ly/principiosdocontrolebiologico
Sobre o Projeto Regenera Cerrado
O Regenera Cerrado tem como objetivo disseminar técnicas de agricultura regenerativa, respaldadas cientificamente e que sirvam de exemplo escalável de produção de soja e milho para o Brasil e para o mundo. Idealizado no Instituto Fórum do Futuro, em 2022, o projeto conta com o patrocínio da Cargill, execução operacional do Instituto BioSistêmico (IBS) e parceria de nove instituições nacionais, além de 12 fazendas da região do município de Rio Verde, no sudoeste de Goiás.
As instituições parceiras no projeto são: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig); Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS); Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano (GAPES); Instituto Federal Goiano; Universidade Federal de Lavras (UFLA); Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ); Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); e Universidade de Brasília (UnB).




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