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Por um Novo Pacto Global do Alimento - Entrevista-síntese com Alysson Paolinelli.

“É PRECISO COMEÇAR A CONSTRUIR UM MUNDO MELHOR PARA AS PESSOAS E PARA O PLANETA IMEDIATAMENTE, JÁ, E O PAPEL DOS PAÍSES TROPICAIS É DECISIVO”

*Fernando Barros


FB - O Senhor está formando um grupo de alto nível, inclusive com a participação de lideranças de fora da “Bolha” do Agro, para promover uma reflexão sobre o papel do Brasil na conjuntura global dos próximos anos. O que as Nações Tropicais podem fazer pelo mundo neste momento tão delicado da história da humanidade?


AP -Uma árvore em pé vale muito mais do que tombada. Isto é ua grande verdade, mas hoje praticamente reservada aos cientistas, que podem enxerga-la e compreende-la completamente. O mundo – principalmente os jovens - precisa conhecer o verdadeiro significado do que a inclusão social e tecnológica de milhões de pequenos e médios produtores pode representar para a solução das crises agudas e diversas vivenciadas atualmente. É uma grande oportunidade de debatermos políticas públicas e privadas que realmente considerem o bem-estar das pessoas e a saúde do Planeta.


FB - Por essa lógica, é possível reduzir drasticamente a fome global?


AP - Veja somente o caso do Brasil: é possível mais do que dobrar a produção de alimentos sem que seja necessário derrubar uma única árvore.

Já existe tecnologia para isso e é indispensável que as lideranças globais percebam que não será fácil oferecer segurança com mais de 200 mil novas bocas sendo acrescentadas à demanda a cada dia, até 2050. Lidar com essa realidade e ao mesmo tempo cumprir as exigências da pauta ESG exige aprimorar a gestão, o planejamento e assegurar o engajamento comprometido de líderes globais.

Infelizmente, estima-se que mais da metade das tecnologias sustentáveis já existentes ainda não conseguiram aterrissar na sociedade, ou seja, não chegaram às mãos de quem precisa: os pequenos e médios produtores tropicais, que assim são praticamente condenados ao extrativismo que sobrevive de saques contra natureza como se esta fosse um almoxarifado inesgotável.


FB -Por esta via, é possível também reduzir a desigualdade social que só registra agravamentos? Como atacar de frente este problema?


É indispensável gerar renda e emprego para os excluídos com base em projetos sustentáveis orientados pela Ciência. Falta decisão politica, falta virar essa página da história, falta assimilar o impacto positivo que esta decisão pode representar para todos os países.

Só no Brasil são 4,5 milhões de famílias de pequenos e médios produtores vítimas da exclusão tecnológica. No mundo tropical, são dezenas de milhões. É inadmissível pensar qualquer projeto global que não considere a inclusão dessas pessoas numa agenda favorável para todos.


4) E como essa visão atende a agenda climática?


Sem inclusão social e tecnológica as metas da agenda do clima simplesmente não vão sair do papel. Tudo passa primeiro pela regulamentação ambiental das terras dos produtores. Isto por sua vez vai levar ao mecanismo de crédito de carbono, que beneficia a todos indistintamente. Nunca houve na história uma oportunidade de ganha-ganha tão auspiciosa.

Nessa mesma linha:

*É plenamente possível “Desenvolver sem Desmatar”

*É totalmente viável transformar a Amazônia no maior celeiro global de produtos naturais.

Só precisamos unir forças em torno de uma visão de futuro realmente sustentável e socialmente responsável. A governança econômica, como sabemos, é consequência.


5)Esse mesmo raciocínio vale para a contenção da migração forçada?


Com certeza. Este é um dos principais anseios que movem hoje a Europa e os Estados Unidos. O problema miramos no tratamento das consequências, na contenção da chegada de novos imigrantes. Temos que focar na solução dos problemas na sua origem.

Eu pergunto: se conseguirmos gerar renda e empregos de base sustentável nos países tropicais quem é que vai querer se arriscar na aventura da imigração?


6)Esses seriam, em resumo, os grandes desafios do “Terceiro Salto da Oferta de Alimentos” que o Senhor propõe?


Nos anos 1970, demos início, no Brasil, a um dos maiores processos de democratização alimentar da História. Os brasileiros comiam em 1974 3,5kg de frango per capita por ano. Hoje, são 45ks per capita anuais.


No Terceiro Salto podemos ir muito mais longe: produzir um alimento com a qualidade sonhada pelos consumidores; reduzir o desperdício; montar processos produtivos transparentes e mensuráveis; escalar a produção industrial da bioeconomia: se temos as condições de produzir Pirarucu de forma controlada e sustentável na Amazônia, por que não industrializar o “bacalhau” brasileiro? São perto de 30 milhões de amazônidas no Brasil. Alguma dúvida que sem renda e emprego eles vão pressionar a floresta?


Tecnologias com o impacto mínimo da produção de alimentos (ILPF) sobre a natureza diminuem o volume de terra utilizado para a produção e geram muito mais empregos. E de forma sustentável.


7) Unir grandes players, agências de fomento, cientistas, corporações públicas e privadas em torno dessa visão estratégica. Este é o grande sonho do “Um Novo Pacto Global do Alimento”?


Temos uma chance única, uma janela aberta no processo histórico para quebrar o paradigma de que tem sempre perdedores no processo de desenvolvimento. A agenda vital é articular uma frente global de atores para depositar um novo olhar sobre o combate à fome, o enfrentamento da transição climática, o incremento das migrações. O Planeta e as vítimas desse processo não podem esperar.


Reservar aos trópicos o papel de alimentar o mundo não é um favor. É a chave desse grande pacto, capaz de representar um novo início para o Século XXI. Se queremos fazer um mundo melhor agora, por quê esperar?


*Fernando Barros – Diretor de Comunicação Estratégica do Fórum do Futuro


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