O PECADO ORIGINAL DA DESINFORMAÇÃO
- Marianna Ribeiro Oliveira
- há 4 dias
- 3 min de leitura

Fernando Barros
Jornalista e Diretor Executivo do Fórum do Futuro.
A COP30 é uma chance histórica de materializar a capacidade transformadora da gestão, do conhecimento e das tecnologias desenvolvidas pela ciência brasileira. A bioeconomia (conceito sistematizado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a FAO, em 2017) reúne, em uma mesma página, os preceitos econômicos que deram origem ao modelo de governança ESG, e os princípios básicos que regulam a justiça social e o equilíbrio ambiental. Nas últimas quatro edições da COP, predominaram versões extremadas, de todos os matizes. Conseguiremos, agora, revelar a bioeconomia como uma ferramenta capaz de conferir sentido amplo a um desenvolvimento efetivamente sustentável?
Falta informação qualificada que traduza o significado das contribuições da ciência. Depois de retrocessos inquietantes, os riscos agora em jogo são muito elevados.
É possível clicar no botão “recomeçar”, com o suporte de princípios básicos universais que têm referenciado a trajetória humana desde a Renascença, no início da evolução do método científico de apuração da “melhor verdade possível”.
Primeiro passo: retirar os vários bodes de uma sala onde a presença de adultos é cada vez mais rara. Essa reignição requer clareza, transparência e muita lu solar sobre objetivos e propósitos. Entre eles: o respeito à preservação da floresta e da biodiversidade; os direitos dos povos nativos; o combate a todas as formas de ilegalidade, incluindo o desmatamento, o garimpo não licenciado e demais expressões do crime organizado; o direito de acesso ao alimento saudável e suficiente e ao conhecimento e tecnologias que possibilitem a organização eficiente de cadeias produtivas; e a disseminação de práticas como agricultura tropical regenerativa, a nova fronteira da sustentabilidade, que reduz drasticamente o uso de insumos químicos no processo produtivo sem perda de produtividade.
Utopia? Não. Apenas uso aplicado do conhecimento que já existe, mas é indisponível para quem dele precisa. Nos momentos de transição tecnológica, como vimos desde a Renascença, os paradigmas da governança política e econômica global, via de regra, foram sacudidos pelas inovações. Na COP30, o governo criou o cargo de “enviado especial para o combate à desinformação”. O “fato ou fake” é um dos temas desse imbróglio.
Mas falta um canal de diálogo franco e direto com a sociedade, voltado para esclarecer, tangibilizar os resultados concretos que a ciência pode proporcionar, se valorizada. O negacionismo é uma opção suicida. Nos anos 1940/50, o cartoon O amigo da onça dominou a cena política nas mídias brasileiras. Satírico, irônico e crítico, o amigo da onça aparecia em diversas ocasiões desmascarando seus interlocutores, colocando-os nas mais embaraçosas situações. A primeira impressão transmitida pela imagem era sempre totalmente diferente do que realmente estava acontecendo.
Num artigo do The New York Times, Thomas Friedman propôs recentemente uma nova abordagem: a “coopetição”, conceito que gestou em parceria com o consultor Craig Mundie, ex- chefe de Pesquisa e Estratégia da Microsoft e coautor, com Henry Kissinger e Eric Schmidt, do livro referência em inteligência artificial Genesis.
Sua tese central: o crime organizado absorve inovações melhor e mais rápido que os Estados-nação. Assim, ou os países cooperam na construção de parâmetros regulatórios para instituir a confiança comum nas trocas e negócios, ou vão inviabilizar o comércio internacional. Na “ecologia dos contrários” de Friedman e Mundie, EUA e China serão obrigados a cooperar, assim como União Soviética e Estados Unidos um dia limitaram o uso de armas atômicas.
O desenvolvimento sustentável socialmente justo, economicamente viável e ambientalmente correto é importante demais, urgente demais. O mundo leigo (92% dos brasileiros) tem o direito de conhecer o significado de um produto chamado ciência. Iniciar a caminhada ao lado de cientistas brasileiros em direção a futuros desconhecidos e imprevisíveis é uma honra, mas, para a juventude, é uma chance de perceber que resta um caminho de esperança.
Link da matéria do Correio Brasiliense: https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2025/09/7255780-o-pecado-original-da-desinformacao.html?utm_source=chatgpt.com
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