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ESTRATÉGIAS ESTRUTURANTES

Atualizado: 20 de out. de 2021





As perspectivas da economia brasileira neste início de 2021 estão bastante sombrias. Há uma sobrecarga de incertezas sobre como serão equacionadas algumas questões críticas. Será indispensável reorganizar uma nova rodada de auxílios emergenciais para evitar a escalada da fome e da miséria social, pois os impactos socioeconômicos da pandemia deverão persistir por alguns meses.

Tendo em vista que a retomada do crescimento da economia deverá ser lenta e intermitente, é imprescindível formular e implementar ações programáticas de combate ao desemprego e ao subemprego. O semestre está se iniciando num marasmo econômico e torna-se necessário acionar as políticas fiscal e monetária para reverter as expectativas das decisões de consumo e de investimentos.

Missão impossível? Como disse o Presidente Roosevelt em plena crise de 1929: “O que precisa ser feito, tem de ser feito”. De outra forma, prevalecerão a insuficiência de demanda para o comércio e os serviços, a capacidade ociosa de homens e máquinas, os indicadores da recessão econômica. Um contexto típico para a fermentação de tensões e conflitos políticos, se o Governo Federal não for capaz de formular estratégias estruturantes e pacificadoras.

É preciso que haja uma renovação de ideias na concepção das políticas econômicas. Ideias permitem que os agentes econômicos reduzam incertezas e proponham soluções particulares para momentos de crise, construindo novas coalisões políticas, novos mecanismos institucionais e rodadas de negociações consensuais. Não se pode permanecer cativo de ideias historicamente extemporâneas, no que se denomina de “Economia Zumbi”, na qual ideias consideradas mortas reaparecem para assombrar as políticas econômicas.

O Prof. Edmund Phelps, Prêmio Nobel de Economia de 2006, adverte que há uma diversidade ou pluralismo de abordagem no tratamento das questões macroeconômicas e não há um único modelo ou uma única escola que esteja adequada e correta para todo lugar e todo tempo. Esse pluralismo se amplia e se diversifica quando articulamos, de forma politicamente factível, as ideias que permeiam as escolas do pensamento macroeconômico de curto prazo com as teorias do desenvolvimento sustentável no médio e no longo prazos.

Há razões para otimismo do lado real da economia. Os fatores determinantes do crescimento estão presentes na atualidade, em intensidade e qualidade indispensáveis, embora com pontos de estrangulamento detectáveis. A nossa base de recursos naturais é ampla e diversificada, diferenciando o Brasil na economia globalizada e favorecendo a estruturação de cadeias produtivas poderosas, a partir de vantagens comparativas e competitivas para um crescimento econômico mais acelerado

O que estaria, pois, inibindo a nossa expansão econômica e induzindo o empobrecimento de grupos sociais mais desalentados? Ora, como já dizia Keynes, em 1936, as nossas principais decisões econômicas dependem de nossas expectativas de médio e de longo prazo e do prognóstico mais provável sobre o futuro que possamos formular. Dependem, também, da confiança com a qual fazemos esse prognóstico. Se aguardarmos grandes mudanças e transformações, mas não tivermos certeza quanto à forma com que elas possam ocorrer, nosso grau de confiança será, então, fraco e supérfluo.

Paulo R. Haddad é professor emérito da UFMG. Foi Ministro do Planejamento e da Fazenda no Governo Itamar Franco.

Texto originalmente publicado no jornal O Tempo em 28/01/21.

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