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UM NOVO MUNDO É POSSÍVEL A OPORTUNIDADE DO BRASIL

Atualizado: 23 de ago. de 2022




PODER DA NARRATIVA CIVILIZATÓRIA

PRODUÇÃO SOCIAL DE SENTIDO DA CIÊNCIA E DO AGRO TROPICAL

A COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA E O COLAPSO DA VERDADE


A falta de legitimidade e de credibilidade precariza o impacto de todas as outras ferramentas – Inspirado por Philip Kotler


Ontem, a Comunicação era hierárquica, quase sempre limitada à transmissão, sem possibilidade de discussão por parte do receptor/ator. Hoje, quase todo mundo está em pé de igualdade, negocia e responde.” Dominique Wolton, 2006, em “É Preciso Salvar a Comunicação”

A vitória da Comunicação é acompanhada de uma mudança em seu estatuto. É menos um processo, com início, meio e fim, do que uma questão de mediação, um estado de coabitação, um dispositivo que visa amortecer o encontro de várias lógicas que coexistem na sociedade aberta.” Dominique Wolton, 2010, em “Informar não É Comunicar”


“Os economistas desconsideram todos os fatores que não influenciam o posicionamento de uma pessoa racional”. Richard Taller, da Universidade de Chicago, Prêmio Nobel de Economia.

*Fernando Barros, Jornalista – Diretor de Comunicação Estratégica Fórum do Futuro


A Noruega explora Petróleo e caça baleias, é verdade. Mas, ao mesmo tempo, opera uma agenda profundamente conectada com Ciência e com as principais tendências do capitalismo moderno. Nela, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) pautam cada vez mais os mercados, desde o setor financeiro ao varejo da alimentação. Por exemplo, os noruegueses reservam para usufruto das gerações futuras 40% do fundo (1.2 trilhão de dólares - https://www.nbim.no/) criado com recursos do petróleo.


Para enfrentar a deterioração dos estoques de bacalhau, a Noruega - o País preferencial das empresas ESG (Environmental, Social and Governance ) - criou a “Cod Academy”, um programa de gestão integrada do conhecimento reunindo governo, universidades e iniciativa privada. Em poucos anos, o peixe sustentável do Mar Báltico tornou-se uma grife, uma narrativa que atesta a responsabilidade social e ambiental dos países produtores.


O Bacalhau com o selo da “Cod Academy” é hoje um enorme sucesso, tanto de mercado quanto no que tange desenvolvimento de um processo que soube integrar biólogos, militares (Marinhas/Fiscalização), economistas, gastrônomos, equipes de marketing...


A Agricultura Tropical Sustentável, construída sobre uma Plataforma de Ciência, Tecnologia e Inovação, é provavelmente a maior e mais relevante contribuição já feita pelo Brasil ao processo civilizatório da humanidade. Barateou e democratizou o alimento, transformou um dos biomas menos utilizados do Planeta – os Cerrados – num celeiro global. Funcionou também como escudo protetor de uma Amazônia que estava sendo ocupada antes do conhecimento científico chegar. Revolucionou a saúde, os padrões de longevidade, criou bem-estar, e dezenas de cidades (civilização) em uma região que há pouco mais de 40 anos espelhava o Brasil profundo, abandonado e deserto.


Urge associar essa trajetória (o segundo maior grande salto da oferta de alimentos) ao curso civilizatório. à melhoria do bem-estar da humanidade. O significado desta conquista permanece contido numa impenetrável bolha de interesses e visões setoriais, invisível para a sociedade. Isto constrange e limita a participação colaborativa – especialmente dos jovens - na construção do “Terceiro Salto”. Este próximo passo é inexorável. Explorar a Bioeconomia tropical para extrair alimentos, energia e produtos diversos de forma mais sustentável, com maior qualidade e repercussão social deixou de ser uma opção: é um desiderato da demanda contemporânea.


Apesar da força dos fatos, o Brasil não conseguiu ainda introduzir na agenda de debates dos seres urbanos os transbordamentos sociais (nutrição, saúde, longevidade...), econômicos (geração de Renda e Emprego) e ambientais (contenção do desmatamento e impactos positivos na agenda climática...).


Por isso, inovar em Comunicação é crucial. Por isso, novas e confiáveis métricas são imprescindíveis.


Depois de quase cinco décadas de realizações substantivas, o Agro continua a não fazer parte do projeto brasileiro de sociedade, que também não assimila os desdobramentos potenciais que o investimento em Ciências Tropicais faculta. E, parte considerável da população o percebe o mundo rural por meio da página da editoria de Polícia, como uma ameaça ao meio ambiente e à saúde dos consumidores.


Criar um espaço de interação com a sociedade globalizada não é simples. Exige primeiro superar os rígidos protocolos do ambiente informacional clássico e disputar lugar numa nova lógica de entendimento entre os homens. É, no mínimo, desafiador.


A CTO (Diretora de Tecnologia, na sigla em inglês) da Revista EXAME, Izabela Anholett, sintetiza: "quem tem menos de 25 anos hoje não se importa mais com o que é real ou virtual. Para eles, essa diferença não existe, tudo é uma experiência. A antiga geração se importa e, por isso, tem dificuldade em entender a proposta da nova tecnologia. É uma outra mentalidade chegando ao mercado de trabalho e no de consumo".


Ainda que o IBGE registre uma tendência de envelhecimento na pirâmide etária brasileira, a faixa até 30 anos correspondia a 42,43% da população total, em 2019. Quer dizer, estratégias de Comunicação que desconsiderem as particularidades e exigências dos “donos do futuro” parecem condenadas ao fracasso.


Os padrões de eficiência em Comunicação mudam conforme a idade e a capacidade cognitiva do público alvo. Ou seja, para cada segmento que se pretende atingir, uma receita.


A urgência no trato do tempo é outra condição implacável desta equação. Nos anima a certeza de que é preciso transformar adversários em parceiros de trajeto. Há uma legião de jovens urbanos, inovadores, ansiosa por uma causa digna para investir energia criativa na construção de um mundo melhor.


Antes, o alinhamento, o dialogo interno: trazer pesquisadores, técnicos, produtores, empresas para a missão comum de transformar complexidades e tecnicalidades na causa de uma Nação.


A proposta de um novo “Pacto Global do Alimento” pode ser a síntese deste amálgama. Muito antes de enxergar objetivos setoriais, o público urbano formador de opinião, no Brasil e no mundo precisa ser provocado para entender a relevância da inserção social, econômica e tecnológica dos Povos Tropicais como parte essencial das soluções estruturantes da atualidade. É dever da inteligência coletiva brasileira oferecer reflexões sobre a ordem global -impossível pensar a segurança alimentar de forma dissociada.


No mundo pós-pandemia e pós-Ucrânia, agendas paliativas e pontuais se esgotam rapidamente. Por oposição à tradicional pauta informacional e declaratória, a Comunicação Estratégica voltada para a “Advocacy” começa com definição do conteúdo da narrativa, na fundamentação da própria razão de ser da “Causa”: onde queremos chegar.


Em outras palavras, convocar aos jovens a participar do novo Pacto proposto por Alysson Paaolinelli significa participar de várias causas: enfrentar a fome; contribuir para a redução da desigualdade; gerar Renda e Emprego’; conter migrações forçadas; favorecer decisiva e positivamente a transição climática.


Nesse sentido, o Projeto Biomas Tropicais, do Fórum do Futuro, busca demonstrar, de forma mensurável, as transformações, as entregas que a aterrissagem de conhecimentos e de tecnologias da Ciência Tropical são capazes de materializar. Em total sintonia com as mais modernas tendências do capitalismo contemporâneo.


O Conselheiro do Fórum do Futuro e ex-Ministro do Planejamento, Paulo Haddad, acredita que a narrativa já se transformou em arma econômica de grande impacto, capaz de orientar fortemente os investimentos globais. Ele traz para esse debate o livro (2019) do Prêmio Nobel de Economia, Robert Shiller, que aborda um dos aspectos mais relevantes para a compreensão do conceito: “Narrative Economics – How Stories Go Viral and Drive Major Economic Events”.


A Comunicação Estratégica é um dos pilares tanto do problema quanto da solução, mas está longe está longe de ser o único. É preciso construir as bases do alinhamento interno, entre os atores. Promover o entendimento com as instâncias de governo, especialmente o Parlamento, as Agências Reguladoras e os Órgãos de Controle. Carece organizar uma visão de Estado na qual os entes da sociedade civil se vejam representados.


Em jogo, a reputação e a qualidade da inserção no mercado internacional dos produtos brasileiros, a oportunidade de novos investimentos, a perda de cérebros, ou, em última análise, o Projeto Sustentável de Desenvolvimento do Brasil.


Várias iniciativas funcionam como verdadeiras bússolas de navegação nesse admirável mundo novo:


1)ESG -Considerado o “Pai da ESG” (Environmental, Social and Governance), John Elkington foi um dos precursores dessa visão nas grandes empresas. Para ele, os investidores estão dispostos a “pagar muito” para ter acesso aos recursos da Amazônia. Ou, na leitura de outro destacado Conselheiro do Fórum, o pesquisador José Oswaldo Siqueira, “a Amazônia pode se transformar na maior fonte de produtos naturais do Planeta”. Modelos ESG estão sendo construídos em impressionante velocidade:



2)Capitalismo Consciente – Conceito oriundo da parceria entre o acadêmico indiano Raj Sisodia e o fundador do “Whole Foods”, John Mackey, expresso no livro “Empresas Humanizadas: Pessoas, Propósito e Performance”. O “Whole Foods começou com numa loja pequena, em 1978, em Austin, no Texas. Ergueu um império a partir de um propósito: “vender o melhor alimento possível”. A operação, hoje em 16 países e com 500 pontos de venda nos EUA, foi comprada pela Amazon, em 2017, por US$ 13,7 bi.


Quando o Whole Foods prestigia produtos locais dialoga diretamente com a proposta do Professor Alysson Paolinelli, que defende a inclusão dos 4,5 milhões de produtores não tecnificados para atender ao “mercado verde”.


3)Pesquisa, Gestão e Negócios – https://www.rrbm.network/

Os pesquisadores da RBBM (Responsible Research in Bussiness & Management) imaginam um mundo governado pela colaboração entre diferentes parceiros, aí considerando o setor empresarial e seu interesse em impulsionar empresas de base tecnológica. Para os cientistas, “o sistema atual está aquém de cumprir nosso potencial coletivo”. Defendem que os entes mensurem e acompanhem a qualidade do seu impacto sobre os negócios e a sociedade. Propõem que Ciência, o Governo e a Iniciativa Privada produzam um diagnóstico conjunto.


4)A Universidade do Bacalhau (https://cod.fromnorway.com/sustainability/ -

Fundada no tripé formado pelas perspectivas do Planeta, das Pessoas e do Lucro, essa iniciativa partiu da constatação, em 2011, da ameaçadora degradação dos estoques de bacalhau na costa norueguesa. Na prática, os biólogos identificaram os limites sustentáveis da pesca, o governo fortaleceu a regulação, a Marinha foi convocada para a fiscalização, os economistas perceberam que a comercialização de bacalhau era limitada porque fortemente sazonal (Páscoa e Natal). E os Chefs foram instados a criar receitas para tornar a iguaria um prato do dia a dia. O pessoal de Propaganda e Marketing se encarregou do resto.


Assim nasceu a Rede Nórdica de Recirculação de Sistemas de Aquacultura - https://www.nordicras.net/ -, hoje reunindo dezenas de doutores, gestores e economistas dos países em torno do Mar Báltico.


Em suma, o conjunto dessas tendências configura principalmente um movimento do capital na direção da modernização do processo produtivo. Muito provavelmente, um novo salto do capitalismo em sua permanente busca de reinvenção e sobrevivência.


*Jornalista, trabalhou 20 anos no Estadão; foi um dos precursores do jornalismo ambiental no Brasil. Participou da fundação do Fórum do Futuro


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