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UMA NOVA POLÍTICA ECONÔMICA

Atualizado: 22 de out. de 2021





Por Paulo Haddad


Quando se observam as experiências de superação de crises econômicas na América Latina, há uma tendência para que governos orientados por programas de gestão primariamente ideológicos elaborem um modelo de política econômica descompassado do contexto histórico em que se situam. Normalmente, os seus programas apresentam uma sobrecarga de fundamentalismos ideológicos, aos quais se apegam numa rígida trajetória linear de gestão, indiferentes aos problemas e às potencialidades das novas realidades do cotidiano.

Diferentes contextos históricos requerem diferentes modelos de política econômica. A Economia dispõe de uma multiplicidade de modelos sob medida para uma variedade de contextos históricos, um verdadeiro mosaico de modelos alternativos. A política econômica tem de ser contexto-específica e apresentar intensa docilidade à realidade de uma nova política econômica, com renovação de ideias e de modelos.

Nada como dar uma olhada em experiências históricas da superação de crises profundas em economias de mercado, como é o caso da economia norte-americana em 1929. De 1929 a 1932, a taxa anual de desemprego naquele país chegou a 35% da força de trabalho, ampliou-se o número de pessoas passando fome e muitos suicídios foram registrados entre aqueles impactados pelas crises da Bolsa de Valores e dos Bancos.

O Presidente dos Estados Unidos consultou o seu Ministro da Fazenda sobre que medidas deveria tomar para reduzir o desemprego, atenuar crises na Bolsa de Valores e mitigar a insatisfação de empresários, industriais e fazendeiros. A resposta do Ministro, que se opunha a qualquer política fiscal ou monetária expansionista: “Liquidem-se empregos, liquidem-se ações, liquidem-se fazendeiros, liquidem-se propriedades imobiliárias... o povo viverá uma vida mais digna... e as pessoas empreendedoras resgatarão os destroços das pessoas menos competentes”.

Tratava-se de uma proposta de austeridade dentro da filosofia de um liberalismo radical que procurava restringir a intervenção do Estado na dinâmica do ciclo econômico depressivo e ampliar o escopo do mercado na “depuração” do sistema. Esse estilo de austeridade passou a ser denominado de “reducionismo econômico” ou de “Darwinismo econômico”, pois previa que, numa crise, sobrevivessem apenas os agentes econômicos e as instituições mais eficientes e mais adaptadas à lógica do sistema prevalecente.

As experiências das crises econômicas e sociais, em diferentes períodos da história de diversos países, nos ensinaram que uma política econômica amarrada a princípios ideológicos extemporâneos pode provocar grandes desastres econômicos, sociais e políticos para a população. Os riscos de um reducionismo econômico são mínimos em uma democracia, por causa do sistema de pesos e contrapesos na estrutura do Poder Político. Veja, por exemplo, as ações do Congresso Nacional para impor ao Executivo o programa de auxílios emergenciais de uma política social compensatória durante o ciclo da pandemia.

Entretanto, uma postura de inércia, de conformismo e de laissez-faire da política econômica pode permitir que a crise social se agrave ao liquidar empregos de pessoas experientes e qualificadas e ao liquidar o valor econômico de organizações empresariais eficientes. É o Darwinismo econômico entrando pela porta do fundo.


Paulo R. Haddad é professor emérito da UFMG. Foi Ministro do Planejamento e da Fazenda no Governo Itamar Franco.

Texto originalmente publicado no jornal O Tempo em 15/04/21.

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